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Simpósio Mundus Novus:
Arqueologia no estado do Rio de
Janeiro
Caderno de Resumos.
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Justificativa e Objetivos da temática
Em 1503 Américo Vespúcio remetia ao rei de Portugal uma missiva onde
narrava sua visita ao território brasileiro. Nela, o navegante afirmava que:
“Ha dias lhe escrevi extensamente acerca do meu regresso das terras
novas, que, na frota a expensas deste Sereníssimo rei de Portugal,
corremos e descobrimos, as quais terras nos deve ser permitido
chamar Novo Mundo, porque, entre os nossos maiores não houve o
menor conhecimento de que fossem habitadas, e para todos que
ouvirem será uma novidade [...]Mas o ser esta opinião falsa, e a
verdade o contrário, se provou nesta minha última viagem, pois
naqueles meridianos encontrei terra continental habitada de mais
povos e animais que a nossa Europa e a Ásia ou África, e os ares mais
temperados e amenos que em qualquer outra região conhecida
conforme direi, tratando do que vi ou ouvi digno de notar neste Novo
Mundo, segundo se verá mais abaixo”.
Compreendendo que a ocupação do continente americano e, em especial, do
estado do Rio de Janeiro, é um fato atestado pela arqueologia desde, pelo menos, 8 mil
anos antes do presente, o evento Mundus Novus: Arqueologia no estado do Rio de
Janeiro pretende realizar um encontro onde se debata, pela arqueologia, a ocupação, a
significação
do
espaço
com
seus
desdobramentos,
os
grupos
étnicos
e
culturas diaspóricas que compuseram o quadro sócio cultural fluminense e suas
recepções.
Desta maneira, o evento pretende realizar um amplo debate acerca de pesquisas
arqueológicas que se debrucem sobre os grupos que compõem o complexo quadro
cultural e populacional do estado do Rio de Janeiro. Organiza-se este encontro tendo
como eixos temáticos (i) a pré-história fluminense, (ii) a presença indígena tupi précabralina e
pós-contato
europeu, (iii) o
legado
africano
a
partir
de
eventos diaspóricos do tráfico e da escravidão, e, por fim, (iv) a presença do colonizador
europeu pelas diversas nações que se instalaram no solo fluminense ao longo de quase
500 anos de ocupação recente.
Objetiva-se, com isso, fomentar o debate sobre os estudos arqueológicos já
realizados no estado, os que estão em curso atualmente (ou ainda) e novas perspectivas
de estudos que se debrucem sobre a ocupação e significação do estado do Rio de
Janeiro. Desta maneira, pretende-se contribuir para o conhecimento e atualização do
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estado da arte das pesquisas arqueológicas, a troca de experiências entre pesquisadores
de diversas áreas e permitir a compreensão da relevância da Arqueologia para a
compreensão do passado e, por consequência, qual o legado de memória e patrimônio
que tem sido deixado paras as próximas gerações de pesquisadores e do povo
fluminense.
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Programação do Simpósio
07/06 (terça-feira)
08/06 (quarta-feira)
15h – Credenciamento e Abertura
do Evento
14-16h – Mesa 2:
15:30h – Conferência de Abertura
Ondemar Dias (IAB-RJ)
Perspectivas multidisciplinares sobre
o Rio de Janeiro
17-19h – Mesa 1:
A presença indígena no Rio de
Janeiro - Xamanismo ameríndio,
plantas psicoativas e novas
religiosidades urbanas
16-16:30h– Debate e questões
17-19h – Mesa 3:
A ocupação Pré-histórica no Rio de
O legado dos Africanos e afroJaneiro: Os samabaquieiros
brasileiros para o Rio de Janeiro
fluminenses
19:30h – Debate e questões
19:30h – Debate e questões
09/06 (quinta-feira)
14-16h – Mesa 4:
Presença, alteração da paisagem
urbana e rural e as
transformações do espaço a
partir dos grupos europeus no
Rio de Janeiro
16-16:30h- Debate e questões
17h-19h –Mesa 5:
Novos olhares sobre a
Arqueologia Fluminense
19-19:30h – Debate e questões
20h – Conferência de
Encerramento
Encerramento do Evento
André Leonardo Chevitarese
(IH-LHER/UFRJ)
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Conferência de Abertura:
Perspectivas multidisciplinares sobre o Rio de Janeiro
Conferencista: Ondemar Dias
Mestre em História Social (UFRJ)
Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB)
Nesta palestra será inicialmente discutida a questão sobre conceitos como
disciplinaridade, multi ou pluridisciplinaridade; interdisciplinaridade e as atuais
pesquisas sobre a viabilidade da transciplinaridade. Utilizando como exemplo a própria
arqueologia serão discutidos seus vínculos de formação ligados à História e a
Antropologia, além de todas as teorias, métodos e técnicas que fundiu oriundas de
outras especialidades, da biologia e seu sistema classificatório, da geologia e seus
princípios estratigráficos à outras áreas mais recentes como a genética, a estatística, a
educação patrimonial, a museologia, etc.
Como elemento de ligação será rapidamente enfocada as linhas peculiares que regem
seus trabalhos e os campos necessários de aprofundamento agora em andamento.
Num segundo momento será explorada em linhas gerais as atuais atividades
naturalmente transdisciplinares tanto das pesquisas acadêmicas quanto daquelas de
contrato, estabelecidos seus pontos de contato e diferenciações, assim como os
principais projetos e seus limites, a serem abordados mais profundamente nas demais
apresentações.
E terminando algumas considerações sobre o possível futuro dessa instigante atividade
cultural. Ou seja os "Novus Mundos" que a espera.
Mesa 1: A ocupação Pré-histórica no Rio de Janeiro: Os samabaquieiros
fluminenses
Coordenação:
Lilian Cardoso
Doutoranda em Arqueologia (MN/UFRJ)
Membro da linha de pesquisa Dinâmicas Arqueológicas, Antropológicas, Filosóficas e
Históricas” no LHER
Será dedicada a apresentação de trabalhos sobre as populações sambaquieiras e
estudos realizados, paleoameríndios fluminenses (caçadores-coletores-pescadores),
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temas da Zooarqueologia, Paleoetnobotânica e relações entre Palinologia e ocupação do
território fluminense.
O Processo de Formação do Sambaqui de Amourins (Recôncavo da
Guanabara, RJ) sob um olhar Zooarqueológico
Lilian Cardoso
Doutoranda em Arqueologia (MN/UFRJ)
O estudo teve como intuito compreender o processo de formação do Sambaqui de
Amourins, bem como elucidar as interações estabelecidas entre os sambaquieiros que
edificaram o sítio e o ambiente em que estavam inseridos. Os resultados obtidos
apontam para a preferência dos ambientes lagunar, litorâneo e estuarino na captação de
recursos faunísticos. As diferentes camadas culturais estudadas mostram que o grupo
privilegiou conchas de bivalves como material construtivo. A mudança abrupta na
composição malacológica, observada na camada que constitui o topo do sítio, mostrouse uma questão de escolha cultural, já que não encontramos evidências de
superexploração dos recursos faunísticos.
Processos formativos e uso do fogo no sambaqui de Cabeçuda- SC
Thamyres Ederli
Mestranda em Arqueologia (MN/UFRJ)
O objetivo principal desse projeto é investigar a frequência do uso do fogo no Sambaqui
de Cabeçuda e a sua relação com os distintos padrões construtivos associados a este
sítio, a partir da análise de dados qualitativos (análises documentais) e quantitativos
(pesagem e contagem de carvões) provenientes das diversas escavações aí realizadas.
Espera-se com isso contribuir para a compreensão dos processos de formação deste
sambaqui, dos padrões de uso do fogo e de suas possíveis conotações rituais.
Cultura e ritual no sambaqui de Amourins: uma história através de
macrovestígios vegetais
Natacha Souza-Pinto
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Mestranda em Arqueologia (MN/UFRJ)
O estudo de sambaquis tem despertado o interesse de pesquisadores desde o século
XIX, mas é apenas no século XX, com o desenvolvimento da Arqueologia Brasileira,
que esses sítios começam a ser sistematicamente estudados. O sambaqui de Amourins
não é uma exceção. Apesar de pesquisadores terem se dedicado a pesquisas sobre esse
sítio desde a década de 1980, estudos Arqueobotânicos ainda podem elucidar questões
sobre a relação dessa população com os vegetais (dieta, combustível, ambiente, ritual).
Através da Antracologia, pretendo, portanto, pensar as relações que essa sociedade
estabeleceu com as plantas.
Mesa 2: A presença indígena no Rio de Janeiro - Xamanismo ameríndio, plantas
psicoativas e novas religiosidades urbanas no Rio de Janeiro
Coordenação: Lígia Duque Platero
Doutoranda em antropologia pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia e
Antropologia (PPGSA) da UFRJ e coordena a linha de pesquisa “Xamanismo
ameríndio, plantas psicoativas e novas religiosidades urbanas” no LHER
Será dedicada a apresentação de trabalhos sobre os grupos indígenas presentes
antes e depois do contato com os europeus. A mesa se focará em tema como formas de
relação com o ambiente e paisagem, tecnologia lítica, cultivo de plantas, cerâmica,
contatos culturais com europeus e suas consequências, além da dispersão e culturas
indígenas pelo estado do Rio de Janeiro.
Os yawanawa no Rio de Janeiro: entre alteridades e analogias
Renan Reis
Mestre em Sociologia e Antropologia (PPGSA/UFRJ)
Associado ao Núcleo de Arte, Imagem e Pesquisa Etnológica
Nesta comunicação, pretendemos falar sobre as estratégias yawanawa de construção de
alianças nas cidades. Inicialmente, iremos contextualizar os yawa a partir de sua
presença na conferência Eco-92, no Rio de Janeiro, e os 20 anos seguintes. Após esta
etapa, falaremos sobre como se introduzem em uma rede neo-ayahuasqueira e como
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traduzem sua filosofia e rituais para serem realizados em meio urbano. Aparentemente,
são formas de rituais voltadas para as relações de reciprocidade onde noções
polissêmicas são operadas a fim de fazerem dialogar distintos regimes ontológicosque
não, necessariamente, contradizem os significados yawa, mas operam como traduções
que não validam a explicação neo-ayahuasqueira, mas sim a yawa.
A cura através do cipó: Ayahuasca e espiritualidade na Arca da Montanha Azul
Rodrigo Rougemont da Motta
Mestrando em Antropologia e Sociologia (PPGSA/UFRJ)
A proposta deste trabalho é refletir sobre a perspectiva terapêutica da espiritualidade e
como ela é tratada dentro de determinado cenário religioso contemporâneo. O interesse
é examinar esta relação dentro de um espaço que faz uso da bebida ayahuasca, mais
especificamente seu uso em contexto urbano. O espaço que será analisado parte de um
pressuposto que liga o conceito de religião a uma de suas possíveis etimologias,
“religare”, que significa religar o que foi cindido, aproximando o trabalho espiritual do
trabalho realizado pelo terapeuta que busca integrar materiais do inconsciente.
Ore Arandu (nosso conhecimento guarani): sobre Nheê - espirito nome
Sandra Benites, guarani Nhandewa
Mestranda em Antropologia Social (MN/UFRJ)
A apresentação trata do processo da formação de uma criança na concepção guarani
Nhandewa, seguindo ore Arandu, que significa conhecimento geral. Os objetivos da
fala são tratar sobre o processo de ensino e aprendizagem da criança em meio a rituais,
para receber o nome em guarani, a importância do nome da criança para os pais e os
procedimentos que os pais devem seguir quando têm crianças pequenas na família.
Nheê - espirito nome - é o fundamento da pessoa guarani. Busco descrever os rituais de
passagem para vida adulta de meninas e os meninos: rituais de caça, pesca e colheita.
Assim, a educação guarani Nhandewa é algo constante e não acabado. Os rituais
seguem um continuo, ligado a todas as atividades sagradas que são praticados pelas
comunidades das aldeias mais antigas. Atualmente, estão diminuindo essas práticas por
conta de vários motivos, tais como espaços inadequados para rituais, falta de elementos
que faz partem dos rituais como, por exemplo, cedro (yary), uma árvore sagrada para os
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guaranis. São consequências que as comunidades sofrem devido à falta de prática dos
rituais.
Mesa 3: O legado dos Africanos e afro-brasileiro para o Rio de Janeiro
Flávio dos Santos Gomes
Professor do Instituto de História – UFRJ
Congregará trabalhos que versem sobre a presença, circulação, formas de
sociabilidade, resistência, diáspora e religiosidades dos africanos e seus descendentes no
estado do Rio de Janeiro. Pretende explorar as transformações que este grupo imprimiu
à paisagem fluminense em contextos urbanos e rurais e suas consequências para a
formação da cultura, identidade e religiosidade regional fluminense.
De quais Áfricas vieram os Nãgõs?
Mariana Gino
Mestranda em História (PPGHC/UFRJ)
Não sou especialista em história da escravidão e, tão pouco me atreverei a ser, mas é
imprescindível para qualquer pesquisador sobre a Histórias das Áfricas, no Brasil, tentar
entender a inserção, mesmo que minimamente, dos grupos étnicos em solo brasileiro.
De tal modo, também é imprescindível que um historiador das Histórias da Escravidão
no Brasil se proponha a fazer, mesmo que minimamente, o caminho inverso e busque
em solos africanos as possíveis ressignificações dos grupos étnicos que fora escravizado
e traficados para as américas.
A possibilidade de escrita, reescrita e ensino de uma história da escravidão alicerçada
pelas interfaces das histórias das Áfricas não é algo recente nos é recente o fato de que o
ensino passou a ser obrigatório em todas as instancias educacionais no Brasil.
Igualmente, percebemos que o número de pesquisas e estudos sobre Histórias das
Áfricas começaram a ganhar um peso para além dos espaços onde outrora estava
circunscrita; movimentos sociais negros, ações afirmativas e de uma certa forma nos
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centros de pesquisas e ensino superior (ou de terceiro grau) no Brasil que bem antes da
década de 60 já vinham se debruçando sobre o tema.
Destarte, o objetivo deste trabalho é tentar traçar as interfaces históricas dos grupos
étnicos Nagôs em solos africanos antes do processo de escravização e trafico dos
mesmo para a Brasil, especificamente na cidade do Rio de Janeiro. Os Nagõs, que na
etnologia moderna são chamados de Yorùbás, foram um dos últimos grupos étnico
africanos a ser escravizados e traficados para as américas entre os séculos XVIII e XIX
(SANTOS, 2012) e constituem hoje um dos maiores legados culturais e religiosos no
Brasil. Esperamos com este trabalho poder ajudar na reconstrução de percursos de
pesquisa que não tenham em seu bojo uma visão monolítica sobre o continente
africanos e os grupos étnico, que nela habitam, e suas reconstruções sociais.
Os Ketus: O legado religioso de Bamgbosé Obitiko
Carlos Alberto Ivanir dos Santos
Mestrando em História (PPGHC/UFRJ)
Tentar entender a gênese cultural religiosa dos africanos “escravizados” no Brasil é
mergulhar indiscriminadamente sobre o processo de conhecimento e entendimento dos
múltiplos sistemas culturais e religiosas que aqui convivem. Destarte, priorizando uma
leitura histórica’ vista de baixo’ alicerçada sobre a perspectiva thompsoniana, longe de
uma leitura marginal, o objetivo deste trabalho é protagonizar o Babalawô Bamgbosé
Obitiko, nigeriano, da corte de Oyó ligado ao culto de Sángo, na constituição histórica
do Candomblé de Ketu no Brasil. Bamgbosé vem para o Brasil em meados do século
XVIII e a partir de então passa a ter a sua história cultural e religiosa ligada aos terreiros
de candomblés, tais como o Ilé Iyé Iyá – Nàsó (no Engenho Velho em Salvador), o Ilé
Òs ôsì (nas terras conhecidas com o nome de Gantois) e o Ilê Asé Òpó Àfonjá (em São
Gonçalo do Retiro), considerado o mais antigo dentre os de nação ketu (culto de orixás).
A possibilidade de reescrita da história do sacerdote nos mostra uma possibilidade de
leitura sobre África desvelada de preconceitos históricos sobre as relações e interações
entre o Brasil e o Continente africano.
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Mesa 4: Presença, alteração da paisagem urbana e rural e as transformações do
espaço a partir dos grupos europeus no Rio de Janeiro
João Carlos Nara Junior
Doutorando em História (PPGHC/UFRJ)
Leonardo Amatuzzi
Doutorando em Arqueologia (MN/UFRJ)
Coordenadores da linha de pesquisa “Arqueologia, História e Cultura Material no Rio
de Janeiro e Brasil” no LHER
Visa abordar trabalhos sobre a presença e a constituição dos espaços urbanos e
rurais no Rio de Janeiro a partir da presença de grupos europeus e nacionais (brasileiros
no pós-independência, portugueses, espanhóis, franceses, alemães e demais grupos que
circularam pelo estado até o fim do século XIX), além de suas expressões culturais e
religiosas expressas na materialidade da cultura (igrejas, residências, espaços de
sociabilidade, entre outros).
Arte sacra para quem: a experiência religiosa da audiência
João Carlos Nara Junior
Doutorando em História Comparada (PPGHC/UFRJ)
Coordenador da linha de pesquisa “Arqueologia, História e Cultura Material no Rio de
Janeiro e Brasil” no LHER
Para além da mera iconografia ou da hermenêutica das alegorias religiosas, é possível
detectar na decoração religiosa um caráter semiótico. O melhor modo de interpretar
imagens consiste em abdicar de lê-las como se fossem ideogramas, pois a questão
imagética versa menos sobre as mensagens, do que sobre os mensageiros.
De fato, o inventário dos aspectos funcionais do estilo rococó empregado na decoração
da Matriz da Freguesia de Santa Rita, no Rio de Janeiro, evidencia a ambiguidade da
simbologia decorativa, a despeito de sua eventual decodificação. As relações entre os
símbolos, as variações formais, as conotações sociais, os diferentes níveis de percepção
e de compreensão que exigem dos seus observadores, entre outros problemas, deixam
claro que a materialidade da igreja contém enganos e ironias, é passível de
ressignificação e traz no seu bojo a marca da historicidade.
Como outros arqueólogos que abordaram a ambivalência da cultura material em seus
trabalhos, Christopher Tilley entende que tal ambivalência significativa é peculiar às
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“metáforas sólidas”. Contudo, ambivalência não quer dizer ilusão, mas amplidão. E no
caso específico do simbolismo religioso, o símbolo — ao tentar saltar o abismo entre a
representação artística e o conteúdo transcendente do numinoso — contém em si a
consciência da própria insuficiência. Tal insuficiência, porém, não impede o numinoso
de se fazer presente através de tão pobre acesso: por isso os símbolos dizem mais do
que exprimem.
Essa discussão conduz a uma dupla questão: De que forma o mensageiro se vale da
fragilidade do símbolo para persuadir sua audiência? E que audiência é essa, capaz de
fazer da experiência estética uma experiência religiosa?
Como eles chegaram até aqui? Considerações sobre a presença romana no modelo
de nação imperial brasileira
Leonardo Amatuzzi
Doutorando em Arqueologia (MN/UFRJ)
Tendo em vista que a corte real portuguesa foi transferida para o Brasil no período em
que Napoleão avançou sobre a Europa continental, e que os componentes dessa elite
trouxeram para os trópicos toda a pompa característica do poder imperial, buscar-se-á
conseguir com esta pesquisa elementos que sustentem a ideia de que não foi apenas o
modelo de governo que funcionava no Brasil que teve de ser redefinido a partir do ano
de 1808.
A mudança ocorrida no nome da antiga colônia, que foi rebatizada Reino Unido de
Portugal, Brasil e Algarves, bem como a transformação da cidade do Rio de Janeiro em
capital império são dados extremamente representativos das novas práticas que
precisaram ser inseridas para a formação de um contexto de reformulação de uma série
de conceitos utilizados em terras brasileiras. Essas alterações podem ser explicadas com
base na ideia de que os membros formadores da corte imperial chegaram ao Brasil
trazendo consigo todas as referências que possuíam a respeito do que precisaria ser
refundado para que o país deixasse de ser aquilo que era até então e se transformasse em
uma verdadeira nação civilizada.
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Sendo assim, considerando que o objeto dessa pesquisa corresponde a uma análise dos
dados que fundamentaram o modelo de Nação pensado pelos membros da corte imperial
portuguesa para o Brasil após o estabelecimento da cidade do Rio de Janeiro como
capital desse império, será realizada uma análise pormenorizada dos símbolos desse
modelo que estão representados na Sala do Trono localizada no interior do palácio
imperial. Tal prédio é particularmente interessante para a vida da cidade, na medida em
que hoje abriga o Museu Nacional.
Optou-se por partir desse espaço do referido prédio por entender que a simbologia usada
para criar uma narrativa capaz de identificar o império português como detentor de uma
chancela de verdadeira civilização, representada no teto dessa sala, dialoga com a nossa
premissa de que, através dos indícios fornecidos pela análise interpretativa dos objetos,
é possível identificarmos o modo como o projeto de Nação pensado para o Brasil nesse
período esteve intimamente ligado com os padrões civilizacionais estabelecidos pela
Antiguidade Clássica, em especial durante o Período Romano.
Desse modo, portanto, buscar-se-á ao longo da pesquisa a realização de uma
investigação ligada a existências de indícios que sustentem a ideia de que a narrativa
contada no teto da Sala do Trono dialogava, numa espécie de eulogium a experiência
civilizacional dos romanos, com outros elementos presentes em outros espaços de
destaque da cidade do Rio de Janeiro no período imperial.
O visível e o invisível na Quinta da Boa Vista
Ricarte Linhares Gomes
Doutorando em Arqueologia (MN/UFRJ)
Este trabalho tem como objetivo identificar e analisar a construção da paisagem da Real
e Imperial Quinta da Boa Vista, como um elemento fundamental à configuração do Paço
de São Cristóvão. Para tanto, serão analisadas as passagens subterrâneas e túneis de
ligação do palácio com o seu entorno imediato, como elementos visíveis e invisíveis
dessa construção, articulando-se o conceito de paisagem e cultura material e de história,
arquitetura e arqueologia.
As imagens analisadas, além de indicarem estruturas que podem corresponder a um
túnel revelaram transformações ao redor do Palácio hoje soterradas, que remetem à uma
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ordenação do espaço atualmente perdida, após sucessivas intervenções urbanísticas na
Quinta da Boa Vista. Nestas imagens e em gravuras cronologicamente anteriores,
verifica-se que o espaço destinado ao entorno do Palácio ocupava, em sua porção frontal,
praticamente toda a colina. Defronte ao Paço, descortina-se uma grande área. A
imponência do complexo Palácio/Terraço difere em sofisticação das obras realizadas
por Glaziou na Quinta, abrindo a Alameda das Sapucaias, estabelecendo espaços para o
grande jardim frontal e acessos laterais. Com a reforma de Glaziou, o monumental dá
lugar ao suntuoso, ao sofisticado. O grande impacto do Palácio e seu entorno ocupando
toda a área da colina é suavizado em uma paisagem que transfigura a distância e o
destaque da residência Imperial para a longa via central de acesso.
A partir dessas reflexões iniciais o presente projeto busca recuperar e interpretar
aspectos da paisagem do Paço Imperial anteriores às modificações impetradas por
Glaziou. Parte dessa paisagem, hoje soterrada, refere-se aos elementos visíveis do
entorno do Palácio e suas interações com as diferentes alterações realizadas em sua
fachada, parte remetem-se aos acessos subterrâneos, como os túneis e áreas de
comunicação com os serviços e ofícios desenvolvidos ao redor da edificação Imperial.
Tais espaços de comunicação estabelecem uma interação velada entre o edifício e seu
entorno, seja no caso dos túneis, para a passagem da família, sejam as diferentes rotas
de acesso ao prédio por serviçais, escravos e comuns.
Um palácio quase romano: o Palácio do Catete e a invenção de uma tradição
clássica nos trópicos.
Marcus Vinícius Macri Rodrigues
Mestre em História Comparada (PPGHC-UFRJ)
Instituto Brasileiro de Museus
O Neoclassicismo, principal modelo artístico no Brasil no século XIX, foi um dos
veículos da realeza brasileira para transmitir o programa civilizador da monarquia por
meio das artes e arquitetura. Mostraremos como o Palácio do Catete, edifício
neoclássico repleto de representações greco-romanas, reflete um momento no Brasil do
século XIX onde se buscava inventar uma tradição clássica nos trópicos, que tinha por
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objetivo a enculcação dos valores de civilidade e ordem europeias no Brasil, insinuando
uma continuidade entre os valores do Velho Mundo e da monarquia recém-instituída.
Mesa 5: Novos olhares sobre a Arqueologia Fluminense
Rodrigo Pereira
Doutorando em Arqueologia (MN/UFRJ)
Coordenador da linha de pesquisa “Dinâmicas Arqueológicas, Antropológicas,
Filosóficas e Históricas” no LHER
Tem como foco os trabalhos em arqueologia que congreguem campos como a
história, geografia e outras áreas que discutam a arqueologia no Rio de Janeiro sob a
ótica da atualidade. Assim, serão aceitos temas como: o “boom” da Arqueologia de
Contrato no estado, as relações entre a modernização da cidade e pesquisas
arqueológicas e experiências e pesquisas realizadas nestas referidas áreas, bem como
projetos que lidem com temas como: Arqueologia do Tempo Presente, Memória e
Identidade e Arqueologia e Musealização.
Aplicações dos termos Arqueologia Histórica e Sítio Arqueológico Histórico para o
campo de pesquisa brasileiro
Rodrigo Pereira
Doutorando em Arqueologia (MN/UFRJ)
Tendo em vista as dificuldades tanto práticas quanto às associadas aos aspectos da
Legislação do Patrimônio Brasileiro, especialmente às definições de sítio Arqueológico
Histórico e da Arqueologia Histórica, o texto se propõe a suscitar o debate de tais
conceituações e como estas podem ser aplicadas em contextos nos quais a Arqueologia
Preventiva ou de Contrato, tem atuado fortemente devido a um grande número de obras,
como é o caso da cidade do Rio de Janeiro em relação às Olimpíadas que ocorrerão em
2016. Ao mesmo tempo, mesmo que de forma inicial, proporemos meios de sua
aplicação para as pesquisas arqueológicas no Rio de Janeiro e Brasil.
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Arqueologia de contrato - Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, uma experiência
bem sucedida.
Jandira Neto
Graduada/ Licenciada (FEFACEL)
Especialista em Arqueologia Brasileira pela Faculdade Redentor e Instituto de
Arqueologia Brasileira (IAB)
Especialista Didata em Psicodrama pela Federação Brasileira de Psicodrama -FEBRAP
Diretora e Tesoureira do Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB)
Nos últimos cinco anos, três grandes Programas de arqueologia por contrato foram
realizados no Estado do Rio de Janeiro: COMPERJ, Porto Maravilha e Arco
Metropolitano do Rio de Janeiro.
A palestra pretende mostrar que apesar de todos os descaminhos metodológicos
apontados pela comunidade cientifica para este tipo de abordagem na arqueologia
brasileira, é possível se fazer um trabalho que atenda as demandas do empreendedor, da
legislação e mesmo assim ajustar o procedimento para um nível tal de cientificidade na
pesquisa que permita obter informações seguras de modo a dar um bom retorno para as
comunidades atingidas pelas obras.
Usaremos a Pesquisa do Arco Metropolitano
realizada por nós do Instituto de Arqueologia Brasileira como estudo de caso para
demonstrá-lo.
Sob o Solo: A Leopoldina Arqueológica
Claudio Prado de Mello
Prof Ms. Pesquisador do Instituto de Pesquisa Histórica e Arqueológica do Rio de
Janeiro e Terra Brasilis Arqueologia
Os passos apressados das pessoas que seguem rumo ao Centro do Rio, o movimento de
carros e de milhões de coletivos no corredor da Zona Sul ou acesso da Zona Norte não
nos permitem imaginar o passado da região da Leopoldina, tão familiar a todos no Rio
de Janeiro... Até cerca de 150 anos atrás, a região que chamamos de Leopoldina era um
terreno pantanoso parcialmente aterrado aonde carruagens emplumadas e nobres
fidalgos seguiam rumo ao Palácio de São Cristóvão aonde buscavam beijar a mão do
Rei ou do Imperador ou fazer algum pedido. Sendo uma encruzilhada visceral da cidade
do Rio de Janeiro, o terreno da Leopoldina preservou informações valiosas sobre o
passado arqueológico da região que ninguém jamais imaginou que poderiam ser
revelados depois de tanto tempo esquecidos. O terreno vai da Francisco Bicalho até a
17
Rua Ceará e de outro lado da Praça da Bandeira até a Rua Francisco Eugenio e os muros
altos que contornam a Leopoldina ajudaram a preservar registros arqueológicos que
somente recentemente foram resgatados por uma equipe multidisciplinar envolvendo
arqueólogos, historiadores e pesquisadores contratados pela empresa Terra Brasilis
Arqueologia, sob o patrocínio do CL4S Consórcio Linha 4 Sul do Metro do Rio de
Janeiro e apoio operacional do Instituto de Pesquisa Histórica e Arqueológica do Rio de
Janeiro. A equipe, que chegou a ter 39 pessoas se ocupou em pesquisar e preservar os
vestígios do passado sob a ótica dos interesses do futuro, pois, sob a sombra de um dos
equipamentos de escavação do solo mais sofisticados que a tecnologia pode produzir: o
perfurador TBM (que foi no Brasil apelidado de Tatuzão) foi encontrado um sitio
arqueológico de proporções gigantescas e que revela muito do passado da região e da
formação da cidade tal como conhecemos hoje. Naquele local foi realizada uma
escavação parcial de toda a área e nos setores escavados foram encontrados mais de 220
mil itens em apenas quatro meses de trabalho sistemático ( entre Março e Agosto de
2013. A jazida arqueologia se inicia a cerca de 30 centímetros da superfície e se
aprofunda ate cerca de 2,80 e a previsão no futuro é de coletar mais de 2 milhões de
artefatos. Nessas camadas vemos peças de louça, vidro, porcelana, couro e até peças de
ouro que mostram detalhes inusitados do cotidiano da elite da sociedade do Rio de
Janeiro de séculos passados. O mais incrível é que uma significativa parte do acervo foi
encontrada intacta. A cronologia desses artefatos é principalmente dos séculos XVIII e
XIX, mas também encontramos peças dos séculos XVII, XVI. E como um sítio
arqueológico multicomponencial, alem dos remanescentes do Matadouro Imperial da
cidade, encontramos material indígena da fase Tupi-Guarani ( provavelmente associada
a tribo de Araribóia que ocupou as proximidades) e surpreendentemente foram
detectados material arqueológico de um Sambaqui que existiu nas proximidades e fruto
de remanejamento de solos, que ocorreu na região de São Cristovão no processo de
planificação da região.